quinta-feira, 29 de setembro de 2016

cada uno da lo que recibe

escrevo forte, apertando a caneta. ali no dedo de apoio se formou um calo que nunca mais vai sair. que me faz lembrar a todo momento que eu escrevo muito forte, que eu tensiono. e enquanto eu escrever, ele vai ser conservado.
na outra mão, as pontas dos dedos são calejadas também. ali é necessário fazer soar as notas nitidamente. tem que apertar as cordas com precisão. e esses eu conservo com prazer. tenho 5 meios de cultivo, e cada um tem uma forma, uma cor, um timbre. a cada dia que eu quiser sentir esse prazer, estão ali, esperando, e quando ativados, fazem sempre o mesmo efeito. só depende de mim tirar deles o nosso melhor e conservá-los pra próxima vez.
os outros calos são conotativos. por mais que me esforçe pra que eles não existam, ou parem de se manifestar, eles vêm pulsando, corando, as vezes doendo. eles não surgiram da vontade própria, do hábito. eu não saio caçando alvos pro choque. só surgiram do contato e da convivência; posteriormente, do atrito, da irritação, da mágoa. esses calos eu estou lixando, com auxílio de panos quentes.
quero calejar pra sentir só prazer, quero que esses escudos anulem dores e me façam ignorar a única parte dolorida de coisas prazerosas. mas não quero ser preparado pra levar o golpe bronco, nem pra distribuir coices.

meu pai sempre pergunta "ferraduras novas?". não pai, dessa vez comprei pantufas.
nada es mas simples
no hay otra norma
nada se pierde
todo se transforma

27/06/2009 - 00:00

Um comentário: